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O Caminho de Santiago de Compostela hoje

DICAS PARA O MODERNO PEREGRINO

Texto e fotos © Guy Veloso, 1999 (reg. Biblioteca Nacional).

Imagine só: em um mês percorrer a pé mais de 700 quilômetros cruzando toda a Espanha de ponta a ponta! Caminho de Santiago de Compostela, rota medieval de peregrinação com mais de 11 séculos de existência, hoje em dia frequentado por levas de andarilhos brasileiros… Misticismo? Busca religiosa? Também, mas não a regra. Há de tudo: desportistas, turistas, esotéricos, devotos, pessoas de todas as idades e nacionalidades. De uma coisa nenhuma delas escapará: um grande encontro consigo mesmas.

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Puente la Reina. Foto (c) Guy Veloso

Histórias e lendas.

Tudo começa unindo fatos históricos ás lendas. Contam que São Tiago apóstolo de Jesus teria sido sepultado em um pequeno bosque de uma outrora despovoada e longínqua região da Galiza, então província do império romano. Quase 800 anos mais tarde, descoberto por cristãos, esse lugar tornou-se a meta de um dos três itinerários mais conhecidos e percorridos do cristandade (junto com o caminho de Roma e o de Jerusalém). A rota Jacobeba (de jacob, Tiago em latim) teve seu auge nos séculos XI e XII e foi praticamente esquecida a partir do século XVII. Mas, a partir da primeira metade do século xx, o trajeto foi gradativamente “redescoberto’’, criando-se associações para o estudo e preservação do Caminho, como ajuda aos modernos peregrinos.

O caminho hoje.

A cada ano há entre 30 a 50 mil peregrinos percorrendo as rotas que levam a Compostela nas três formas reconhecidas pela igreja e pelas associações de peregrinos como formas autênticas de peregrinação: a pé, de bicicleta ou a cavalo. Embora não haja um ponto de partida definido (muitos europeus saem da porta de sua casa, seja ela onde for), a maioria acabam escolhendo um dos pontos próximos da fronteira francesa, no caso, Saint-Jean-Pied-de-Port ou Roncesvalles, pela rota navarra, ou Somport, pela rota aragonesa (vide mapa). Ambos os trajetos encontram-se pouco depois na cidade espanhola de Puente la Reina, formando um só caminho até a cidade de Santiago.

O Brasil não escapou desta onde: com o lançamento, no inicio da década de 90, do livro “O Diário de Um Mago’’, em que Paulo Coelho conta suas andanças no caminho, a rota Jacobeba tornou conhecida no país. Pouco a pouco, cada vez mais brasileiros viviam esta intensa e misteriosa viagem pelos bosques, montes e campos espanhóis, o que levou a ser criada por Danilo Tiisel, em 1995, a Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago de Compostela – Brasil, com sede em são Paulo, a primeira entidade do gênero na América Latina. Esta organização, reconhecida oficialmente pelo governo da Galiza (Galícia em espanhol), palestras semanais, encontros periódicos e caminhadas preparatórias (www.santiago.org.br).

A “Credencial del peregrino’’.

Além deste trabalho voluntario de seus membros, esta entidade fornece gratuitamente a ‘’credencial del peregrino’’, documento oficial das confrarias espanholas que dá direito aos andarilhos de pernoitarem em albergues especiais, igrejas e monastérios ao longo de toda a rota. Nele, há varias lacunas em branco para serem postos carimbos nos lugares em que o peregrino pernoitar. Assim, mais tarde ao chegar em Santiago, o caminhante receberá um belo diploma escrito em latim, coroando sua peregrinação. Para conseguir o ‘’passaporte de peregrino’’, basta entrar em contato com uma das entidades de ajuda aos peregrinos e provar que viajará á Espanha. Mais informações no site de uma delas (www.santiago.org.br).

A melhor época

Usualmente, as melhores épocas do ano para iniciar a jornada são finais de abril até inicio de junho, ou então do meio de setembro até o inicio de outubro (primavera e outono europeus). A fórmula é simples: tentar escapar dos extremos, no caso o inverno (sempre rigoroso para os padrões tropicais e com boa parte dos albergues fechados) e o verão (deveras cálido e com as rotas e albergues sempre lotados).

O quanto levar?

Para quem quer fazer o caminho usufruindo da rede de albergues, não despenderá muitos euros com estadia. As estalagens costumam ser oferecidas aos viajantes com preços módicos, a título de contribuição, que varia entre 3 a 5 euros o pernoite. É claro que quem preferir dormir em pensões e hotéis gastará muito mais de acordo com o nível desejado. Já no item alimentação, a comida servida ao norte da Espanha além de muito boa é barata, haja vista serem grandes produtores de carne, cereais e vinho. Uma refeição completa sai em media a 15 euros (com o vinho incluso). Em muitos locais há o “menu del peregrino”, com preços promocionais para quem apresentar a credencial.

Assim, deixando de rodeios e indo direto ao assunto: embora seja uma decisão pessoal, que varia de acordo com a necessidade de conforto e segurança de cada um, vou arriscar a dar uma quantia para gastos na Espanha: 800 euros (apenas para o Caminho). Lembro que, de qualquer forma, é interessante o moderno peregrino levar um cartão de credito internacional para qualquer eventualidade além de, é claro, um seguro médico internacional. Há até um convênio da Espanha com o Brasil para assistência gratuita nos hospitais públicos (pesquise se achar conveniente). Também, é bom ter em vista que o povo espanhol tende a confirmar uma tradição de séculos em cuidado aos peregrinos, oferecendo até comida em alguns casos aos mais necessitados.

Importante: você terá que levar seu próprio saco de dormir. Outra dica: compre ele de acordo com o clima que você vai pegar na época (há de vários tamanhos). Pesquise!

Os preparativos

O caminho de Santiago começa bem antes da partida dos peregrinos à Espanha. Cuidados são necessários na hora de comprar o equipamento e selecionar a bagagem – afinal, a mochila, e o que estiver dentro dela, estará por longos quilômetros nas costas do andarilho. Por isso, se você pretende fazer essa loucura aventura de percorrer o caminho a pé, leve uma mochila de boa qualidade e seja econômico no peso que carregar dentro dela (nunca mais de 10% do peso de seu corpo). Lembre-se que o caminho de Santiago de Compostela é um exercício de desapego!

Também, um preparação física básica pode lhe ser muito útil. Ao contrário de quem sai diretamente de uma mesa de escritório direto para os montes de Navarra (eu), aquelas que se preparam acabam passando por dificuldades bem menores, principalmente no inicio da viagem, fazendo etapas diárias entre 20 e 25 quilômetros, com jornadas médias de 8 horas diárias, sobrando tempo e disposição para conhecer os monumentos históricos.

Os Albergues

Quem já frequentou albergues da juventude, não terá problemas em acostumar-se a um “refugio de peregrinos” (nome em espanhol). Nos últimos anos, as prefeituras e associações espanholas têm procurado a melhorar as condições físicas dos já existentes, além de construir outros mais. Eles geralmente fecham para a limpeza pela manhã (9h ou 10 h) e abrem pela tarde (16h ou 17 h). Para ficar, basta apresentar a credencial de peregrino a modesta quantia sugerida. As pessoas dormem em beliches de moles com colchão nu, onde o peregrino deve instalar seu saco de dormir.

Não se aceita reservas prévias e é obedecida a ordem de chegada, embora os que caminham a pé tenham (teoricamente) prioridades sobre os ciclistas, mesmo que chegando depois. Os banheiros, assim como os quartos, geralmente divididos por homens e mulheres juntos, tendem a ficar, no final do dia, em estado péssimo de higiene dado a quantidade de pessoas que usaram por todo o dia. Inclusive, é prova de educação do viajante limpar tudo o que sujou, tendo sempre em mente que outro peregrino em seguida usará os recintos da estalagens.

Também, ao acordar, por favor não arrume a mochila dentro do dormitório para não atrapalhar o sono de quem quer sair mais tarde (embora a maioria das pessoas não pratiquem este ato de educação). Porém, é um ato de cordialidade peregrina levar a bagagem toda para a cozinha ou outro lugar e lá colocar a mochila em ordem. Dê o exemplo!

Há várias tradições peregrinas que você irá aprender ao longo da jornada, como desejar sempre BUEN CAMINO a seus companheiros, e dar um HOLA ao encontrar alguém, conhecido ou não, em especial a todas as pessoas nos bares ou nos restaurantes (aqui no Brasil só se cumprimentam quando se conhecem, não é). Isso ocorre em especial nos vilarejos.

Há nos albergues locais para lavar a roupa e na maioria existe também cozinha para os viajantes prepararem sua comida. É comum os peregrinos se cotizarem fazendo um grande banquete, dividindo a comida. Mesmo contando somente com um mínimo de conforto, aqui vai minha opinião: se você fizer o Caminho, procure ficar sempre nos albergues de peregrinos, deixando de lado a tentação de dormir em hotéis. Sim, pois é lá que você conhece o verdadeiro Caminho, convivendo com os andarilhos e compartilhando, desde comida até emoções.

É claro que você pode preferir em algumas poucas cidades pagar uma pensão barata e usufruir da privacidade, o caminho é um território livre.

Outra coisa que o peregrino brasileiro deveria saber, são palavras e pequenas expressões em espanhol a fim de facilitar o dialogo com os colegas de estrada, tanto andarilhos quanto pastores e moradores dos povoados. Embora não seja algo alarmante você falando somente seu “portunhol”, haja visto que as pessoas no caminho se esforçam verdadeiramente para entender umas as outras, acho que estas noções básicas da língua de Cervantes serão de grande valia.

Segurança no Caminho (em especial à mulheres)

Hoje em dia as pessoas estão se preocupando mais com a segurança. O que era antes uma viagem muito tranquila está, infelizmente, um pouco modificado. Já ouvi falar de assédios no Caminho e roubos… mas são casos isolados. A dica é sempre perguntar nos albergues sobre as rotas e prováveis casos recentes. Como nas hospedarias e no próprio Caminho há sempre muita gente, é fácil fazer amizades que poderão ser companheiros de caminhada, diminuindo os riscos. Mas, de modo geral, ainda é uma viagem segura, já que os peregrinos costumam levar pouco dinheiro tradicionalmente e os “espertalhões” preferirem os turistas mais tradicionais.

Seu passaporte, cartão e dinheiro devem ser carregados naquelas bolsinhas que ficam debaixo da roupa. E durma com ela. Ao tomar banho, leve junto.

De onde iniciar o caminho?

Lembrando o conceito de “território livre”, o moderno peregrino tem direito a escolher o ponto de partida de seu caminho. Embora possa perceber algo diferente do apregoado na imprensa sobrea rota, não há um ponto fixo de saída de peregrinos. Ou seja, está errado dizer que para “fazer o caminho inteiro” tem que sair de Saint-Jean-Pied-de-Port ou de Roncesvalles. Hoje em dia, as pessoas adaptam seu caminho ao tempo de férias. Por exemplo, quem possui 32 dias efetivos de caminhada, parte de Saint-Jean, na França (775 quilometros de compostela); 22 dias, faz o caminho desde Burgos (487); 15 dias, desde Astorga (258); 7 dias, desde O Cebreiro (153 quilometros).

É de se ressaltar que apenas receberá a compostelana quem provar pelos carimbos da credencial ter feito ao menos 100 quilometros a pé ou 200 de bicicleta. Minha opinião é que quanto mais distante de Santiago o peregrino sair, mais intensa e rica em experiências será a viagem. Para os amigos, recomendo sempre o povoado de Roncesvalles como meu ponto preferido de partida. Claro que, não havendo essa possibilidade (falta de tempo, por exemplo), a pessoa pode sem problemas fazer a metade ou apenas um terço do roteiro.

Saint-Jean e Roncosvalles

Para chegar a Roncesvalles ou Saint-Jean desde Madri, pode-se pegar avisão, trem ou ônibus até a cidade de Pamplona. De lá, há linhas de ônibus até o povoado de Burguete e, a partir deste ponto, táxi a Roncesvalles ou Saint-Jean.

É claro que para economizar tempo, toma-se taxi desde o aeroporto de Pamplona até um destes povoados, principalmente se for um grupo que dividirá a conta (aproximadamente 160 euros para Saint-Jean e 110 reais para Roncesvalles, aproximadamente). Chegando em Saint-Jean, o motorista deixará o andarilho próximo a parte histórica da cidade (fechada a automóveis), onde há um albergue de peregrinos.

Escolhendo Roncesvalles, deve-se ir direto ao prédio do seminário Mayor de Santa maria, onde é reservado um imenso quarto com beliches, não esquecendo de pela noite acompanhar a missa com uma solene benção dos peregrinos seguindo antigos ritos medievais. Algo fantástico e inesquecível.

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IMPORTANTE: informo com pesar que dois brasileiros (em anos diferentes) morreram durande a travessia dos Montes Pirineus, rota que vai de Saint-Jean-Pied-de-Port até Roncesvalles. Havendo neve, as rotas podem ficar escorregadias e com as indicações de direção apagadas. Informe-se antes!

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Sobre isto, veja este relato: http://www.meucaminhodesantiago.com/mensagem-de-alerta-cruzando-os-pirineus/

Assim, caso você decida iniciar de Saint-Jean (a etapa mais difícil de todas…porém uma das mais bonitas):
1- Saiba que há duas rotas de Saint-Jean até Roncesvalles: uma pelas montanhas (caminho de Napoleão), outra pelo asfalto (Rota de Vancarlos) – com carros passando ao lado. Pesquise.
2- Pergunte em Saint-Jean sobre o clima e se há neve cobrindo as rotas do caminho de Napoleão, que vai pelas montanhas, o trajeto mais usado pelos peregrinos.
Caso impossível ou arriscado trafegar nesta rota, vá de ônibos ou táxi até Roncesvalles. Ou pegue a rota que vai pelo asfalto (Rute de Vancarlos). Eu não conheço o trajeto de Vancarlos – informe-se também.
2- Começe cedo, ao raiar do dia (ou um pouco antes). Compre comida na véspera e saia alimentado, com algo na mochila (chocolates, pão etc), mas nada pesado.

A Rota Aragonesa

Já para os que desejam aventura e solidão, há também um outro itinerário possível, a não menos tradicional rota Aragonesa que passa por Somport na fronteira franco-espanhola, mais ao sul, e que se une com o primeiro trajeto na cidade de Puente la Reina, 200 quilômetros depois. É uma rota mais difícil, com poucos lugares dotados de albergues e longas distancias entre os povoados. Também mais rústica, longa e solitária que o trajeto anterior. Os peregrinos que elegerem este traçado devem seguir as instruções anteriores até a cidade de Pamplona. De lá, podem pegar um ônibus até o povoado de Jaca e 29 km de táxi até a fronteira (uns 60 euros). Lembro que Somport não é cidade, e sim um mero ponto geográfico com apenas um monumento e aduana desativada separando os dois países, sem, portanto, possibilidade garantida de albergar-se ou comprar mantimentos. Há nas cercanias um refúgio de caçadores bem rústico que pode ser usado por peregrinos, mas não faz parte da rede oficial de albergues, podendo este ficar fechado boa parte do ano.

Assim, chegando em Somport, o peregrino deve saltar do taxi e inicias imediatamente a rota, tendo o povoado seguinte dotado de certa infra-estrutura só 7km depois, em Confranc Estacion. Do mesmo modo que os destinos anteriores, dá para economizar tempo indo direto de táxi de Pamplona a Somport ou até o povoado de Jaca (pernoitando no albergue e tomando bem cedo o táxi até a fronteira).

Por que ir?

Ninguém precisa de motivos específicos para fazer o caminho. A grande maioria das pessoas descobre suas razões ao percorrer a rota. Como dizia o poeta espanhol Antônio machado, “caminhante, são suas pegadas o caminho, se faz o caminho ao andar”. Não há, portanto prazos, limitações, guias turísticos, pontos fixos de partida ou chegada. Não é necessário ser jovem ou atleta para ser um peregrino.

Vi pessoas de todas as idades, desde crianças acompanhadas dos pais, até um senhor basco de 82 anos. Conheci também um holandês cego e pessoas que caminham sem dinheiro, mendigando por comida. Segundo Danilo Tiisel, fundador da primeira Associação de Amigos do Caminho no Brasil: “Você caminha o quanto seu corpo aceitar; come, descansa e dorme onde a fome ou à noite o encontrarem. Com prudência, você será seu próprio guia”.

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BOM CAMINHO!

Levem abraço meu ao Apósto São Tiago e uma oração.

Guy Veloso

http://www.guyveloso.com

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Guia do Caminho de Santiago de Compostela – Guy Veloso

Guia para 30 Dias (efetivos de caminhada para alguém com preparo físico mediano).

Sugestão de trajeto a pé pelo Caminho Francês a partir do povoado espanhol de Roncesvalles. Todos os pontos de chegada possuem albergues de peregrinos.

Texto e fotos © Guy Veloso, 1999 (reg. Biblioteca Nacional).

Caminho de Santiago Saint James road Camino de Santiago

Manjarín-León. (c) Guy Veloso

1º DIA: Roncesvalles – Larasoaña (27 km – etapa de dificuldade média).

O peregrino é brindado logo no primeiro dia de caminhada com Bucólicos bosques. O trajeto passa entre fazendas e vinhais, além de cinco vilarejos. Em Larasoaña, o próprio prefeito local, Sr. Santiago Zubiri, fará as honras da casa.

2º DIA: Larasoaña – Cizur Menor ( 20 km – etapa fácil).

Mais túneis verdes até a chegada a uma grande cidade, Pamplona, com todos os serviços que o viajante possa necessitar. Uma hora depois de Pamplona, o peregrino pode alberguar-se em um belíssimo povoado, Cizur Menor, escolhendo um dos três estalagens possíveis (sugiro o pernoite em colchões postos no chão da Igreja de San Juan, cuidada pela Ordem de Malta).

3º Dia: Cizur Menor –  Puenta la Reina ( 19 km –  esforço médio).

O peregrino apreciará a belíssima vista desde o topo do Monte do Perdão. Nesta etapa, ao passar pela vila de Muruzabal, antes de Obanos, não deixe de desviar-se um pouco da Rota (20 minutos) para conhecer a igreja românica octogonal de Eunate, antiga possessão dos Cavaleiros Templários, um dos mais belos monumentos de todo o Caminho.

4º DIA: Puente la Reina –  Estella (22,5 km –  fácil).

Nesta etapa, dois magníficos povoados medievais, Mañero e Ciruaque. Em Estella tem virado costume dos peregrinos brasileiros visitarem um abrigo de velhinhos, situado ao lado da Igreja de Santo Domingo.

4º DIA: Estella – Los Arcos (21 km – médio).

Você não vai acreditar: há uma fonte que além de água, dá vinho (grátis) aos peregrinos na saída de Estella. Fica no lado de fora de uma vinícola, ao lado do Monastério de Irache. Ao chegar na vila de Ázqueta, você pode procurar conhecer Pablito, um personagem do Caminho, que nas horas vagas dedica-se a presentear os peregrinos com levíssimos e resistentes cajados de madeira talhados por ele. Depois de Ázqueta, pouca vegetação e uma grande planície antes de chegar a Los Arcos com o sol queimando o corpo e a alma.

6o DIA: Los Arcos – Logroño (28 km – fácil).

Não deixe de conhecer a igreja octogonal do Santo Sepulcro em Torres del Rio. Se ela estiver fechada, simplesmente pergunte pela senhora que guarda as chaves, que certamente aparecerá alguém para mostrá-la a você.

7º DIA: Logroño – Nágera (30 km – etapa de esforço médio para difícil).

Imagine uma planície solitária interminável… Se você tiver ainda fôlego, conheça em Nágera o Monastério de Santa Maria la Real e a lenda da aparição da Virgem em uma gruta.

8º DIA: Nágera – Grañon (27km – médio).

Um passeio pelos campos. Pare em Santo Domingo de la Calzada no intuito de apreciar a curiosíssima gaiola com um galo e uma galinha vivos dentro do templo. Se quiser ver onde se cria os galináceos da Igreja, é só dar uma espiada na lavanderia do albergue de peregrinos. Curioso albergue de Grañon, dentro de uma Igreja, onde nada lhe será cobrado. Pela noite, participe lá dos rituais especiais aos peregrinos.

9º DIA: Grañon – Belorado (16km – fácil).

Trajeto muito fácil até Belorado. Quem estiver bem fisicamente, pode seguir adiante até Villafranca Montes de Oca, ou até mesmo San Juan de Ortega. Mas quem estiver cansado, pode ficar em Viloria de La Rioja, no Albergue brasileiro no Caminho.

De qualquer forma, vale parar em Viloria e conhecer o Refúgio do hospitaleiro Acácio (06,5km depois de Grañon, e 9,5km antes de Belorado).

10º DIA: Belorado – San Juan de Ortega (24km – esforço médio).

Algumas subidas a partir de Villafranca. Não esqueça a água do cantil: você vai precisar!

11º DIA: San Juan de Ortega – Burgos (28 km – médio).

Nesta etapa, atravessamos toda a parte industrial de Burgos antes de chegar ao albergue, situado justo na saída da cidade. Visite a Catedral gótica, Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

12º DIA: Burgos – Hontanas (24km – fácil para médio).

Um passeio pelos campos.

13º DIA: Hontanas – Boadilla (29km – médio para difícil).

Em Castrojeriz, conheça Tonho e Maria Jesus, casal dono do bar “La Taberna”, grandes amigos dos brasileiros (mande um abraço meu!). Logo após Castrogeriz há uma subida de 45 minutos. Meia hora depois, no meio do nada, Ermida de San Nicolás, habilitada como albergue de peregrinos em alguns meses do ano (verão). Lá, é realizado pela Ordem de Malta (administradora do refúgio) antigos rituais de acolhida aos peregrinos hospedados. Albergue novo em folha em Boadilla del Camino.

14º DIA: Boadilla – Carrión de los Condes (25km – médio).

Em Frómista conheça a Igreja românica de San Martin, uma das jóias deste estilo arquitetônico na Europa. Pare no povoado de Villacázar de Sirga para conhecer a Igreja de Santa María la Blanca, que também pertenceu – assim como todo o povoado – aos Templários. Em Carrión, fique no albergue ao lado da Igreja de Santa Maria, cuidado pela prestativa e sempre sorridente Sra. Margarida.

15º DIA: Carrión – Terradillos de los Templários (27km – difícil).

Primeiros 17 quilômetros inteiramente desérticos através de campos cultivados. Leve bastante água no cantil! Hospedagem em uma albergue particular com camas individuais e lençóis limpos. A Sra. Mariza lhe tratará como membro da família.

16º DIA: Terradillos – Burgo Raneiro (31 km – médio).

Monótono pelos campos quase sempre desertos.

17º DIA: Burgo Raneiro – León (38 km – médio).

Em León, não perca o Museu da Igreja de San Isidoro com seus afrescos românicos, e a Catedral com seus vitrais. Há 2 albergues de peregrinos na cidade. O meu preferido é o Convento de Santa Maria del Carbajal (no Centro Histórico). Lá, ao cair da tarde os peregrinos são chamados pelas freiras para participarem como convidados especiais de uma singela cerimônia com cânticos devocionais. No mais, usufrua de uma grande cidade com todos os serviços possíveis (lavanderias, cyber-cafés, bares, restaurantes etc…).

18º DIA: León – Villadangos del Páramo (19km – fácil).

Caminhos por áreas industriais e seguindo a auto-estrada.

19º DIA: Villadangos – Astorga (26km – fácil para médio).

Em Astorga, conheça a Catedral Gótica e o Palácio de Gaudi.

20º DIA: Astorga – Manjarin (30 km – difícil).

Depois de Astorga, faça um ligeiro desvio da Rota tradicional, entrando no povoado de Murias de Rechivaldo (a trilha normal vai pela esquerda sem passar na vila) para, dez minutos além, conhecer o belíssimo povoado de Castrillo de Polvazares, todo em pedra. Depois, há uma subida difícil ofuscada pela beleza da paisagem. Ao chegar na Cruz de Ferro (monte de pedras com um mastro de carvalho coroado com uma cruz), é tradição você acrescentar uma pedra ao montículo. Se você tem espírito aventureiro, deve pernoitar no albergue de Manjarin, o mais rústico do Caminho e um dos preferidos pelos “esotéricos”. Pela manhã, Tomás, o hospitaleiro, oferecerá um café gratuito. Ao meio-dia (mais ou menos) conduzirá uma cerimônia Templária. Verdade!

21º DIA: Manjarin – Molinaseca (20 km – fácil).

Descida (cuidado com os joelhos). Piscinas naturais no belíssimo povoado de Molinaseca. No albergue, Alfredo, o hospitaleiro, comandará o papo, regado ao bom vinho da Região.

22º DIA: Molinaseca – Villafranca del Bierzo (31 km – fácil para médio).

Na cidade de Villafranca, há dois albergues. Um da prefeitura, novo e confortável, mas sem nenhuma personalidade. O outro, o tradicional Refúgio Ave Fênix, de Jesus Jato, um senhor que há 30 anos acolhe os peregrinos em sua casa. Em noites frias, ele faz um curioso ritual queimando ervas em uma vasilha de cerâmica, tendo o álcool como base, fazendo uma bebida fortíssima, o Orujo.

23º DIA: Villafranca – O Cebreiro (30 km – difícil).

A maior subida do Caminho (a partir de Roncesvalles). Etapa realmente espinhosa… No Cebreiro, conheça o milagre da carne e do sangue de Jesus.

24º DIA: O Cebreiro – Monastério de Samos (27 km – médio).

Etapa belíssima através dos bosques. Hospedagem na própria Abadia. Experimente o mel produzido pelos monges. Não perca as “visperas” (celebração íntima dos abades).

25º DIA: Samos – Ferreiros (27km – médio).

Um mergulho na vida rural.

26º DIA: Ferreiros – Palas de Rei (34km – médio).

Túneis verdes.

27º DIA: Palas de Rei – Ribadiso de Baixo (25km – fácil).

Em Melide, conheça uma “pulperia” (casa de degustação de polvos e vinhos). A melhor fica na rua principal do povoado que coincide com o Caminho. Belíssimo albergue de Ribadiso de Baixo, um dos melhores do Caminho.

28º DIA: Ribadiso – Arca (22km – fácil).

Belas rotas verdes. Tome muito cuidado ao atravessar a auto-estrada. Estamos chegando…

29º DIA: Arca – Monte do Gozo (16km – fácil).

Belíssima vista da cidade de Santiago de Compostela a partir do Monte. Se você é ansioso, dificilmente ficará neste albergue, há apenas 4 quilômetros da Catedral de Santiago.

30º DIA: Monte do Gozo – Santiago de Compostela (5 km – fácil para o corpo, difícil para o coração). A maioria dos peregrinos vai direto de Arca a Santiago. Se não der, há um imenso albergre bem próximo de Compostela.

Assista a missa do peregrino na Catedral ao meio-dia. Emoção da chegada gratifica todo o esforço destes 30 dias.

Bom Caminho!

Guy

http://www.guyveloso.com

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